domingo, agosto 29, 2004

Μαραθώνιος Avδρών - Maratona masculina

Dia 29 de Agosto...hoje disputa-se a prova mais difícil, longa e desgastante das Olimpíadas: a incomparável, desafiante e contagiante Maratona. Muitos se devem questionar por que é que a prova mais árdua do Atletismo é homónima da cidade grega... A lenda retrocede ao ano de 490 a.C. e conta-nos que: os gregos haviam vencido os persas na batalha de Maratona e coube a Pheidippides a tarefa de levar a boa notícia até a cidade de Atenas. Ele correu aproximadamente 40 km da planície da Maratona até Atenas e ao chegar só teve fôlego de anunciar "vencemos" e caiu morto! Não existe prova desta lenda, mas em 1986, durante os primeiros Jogos Olímpicos da era moderna, Pheidippides foi homenageado pela criação da prova.
Hoje é mais um dia tórrido e seco, com um sol escaldante. A prova tem início ás 18 horas e serão corridos 40 km entre a cidade de Maratona e Atenas.
Inicialmente, quando recebi a lista dos meus turnos de trabalho, estava destinada a trabalhar apenas no Aquatics Center. Não perdi a oportunidade e dirigi-me aos escritórios do Headquarters de Atenas2004, para pedir mais turnos em outras competições desportivas. Entre eles, foi-me consagrado um lugar no Panathinaiko, neste dia memorável!!! Apesar de não assistir ao arranque da corrida, estaria no Estádio a presenciar os medalhistas a cortar a meta.
Entro no Estádio e vou à procura da sala de Language Services, onde encontro um montão de voluntários que se encontram de serviço. O Estádio ainda não está cheio e as pessoas vão chegando aos poucos.
A prova tem início e a única forma de acompanharmos a posição dos atletas é através da televisão no nosso escritório, ou no telão que se encontra no interior do Estádio. Passados alguns minutos é Vanderlei de Lima quem lidera a corrida.
O Estádio está cheio; as pessoas focam os seus olhos no telão à espera de ver a performance do atleta do seu país... O ambiente é calmo e de grande expectativa; não é todos os dias que nos encontramos dentro do Estádio onde tem fim a grande maratona olímpica!
Na sala onde estamos, somos informados pela nossa chefe de equipa, dos procedimentos correctos e das tarefas que nos dizem respeito: tradução, interpretação, possivelmente a presença na Conferência de Imprensa e no Controlo de Doping. Após a divulgação da informação, chegou a hora de relaxar um pouco e ir jantar... Deslocamo-nos em grupo até à tenda que funciona como restaurante self-service dos voluntários, mas que mais parece uma despensa vazia no final da semana. (De facto, é algo que os voluntários não podem deixar de relatar e partilhar com o COI.) Alguns voluntários preferiram voltar à sala e comer lá, eu sentei-me na esplanada ao ar livre e desfrutei daquele momento para saborear a "deliciosa" salada, que era a única alternativa que havia para vegetarianos. Mal começo a comer, recebo uma chamada da chefe de equipa a dizer para eu correr até à sala, pois algo se tinha passado. "Era uma vez um jantar,..." Levanto-me e desço a correr, só parando em frente de todos os voluntários que estão de boca aberta a olhar para a TV. A chefe de equipa gagueja e diz frases sem lógica: "He was pushed away!!", "We need you, you have to talk with him", "It was terrible." Eu sem entender nada, pergunto com cara de admirada: Quem? O quê? Empurrado!? Fora da prova? Como?
Rapidamente sou posta ao corrente do que se passou: Vanderlei de Lima, corredor do Brasil, que corria com 40 segundos de avanço sobre o seu perseguidor, tinha sido empurrado por uma pessoa que saiu do meio da assistência e o agarrou. Entretanto, com a queda e consequente perda de tempo, foi ultrapassado pelos atletas italiano e americano. As pessoas olhavam atónitas para o ecrã sem saber o que dizer, nem o que pensar. (Mais tarde vinha-se a saber que o responsável pela peripécia é um fanático religioso irlandês chamado Cornelius Horan, que em 2003 invadiu também o GP da Inglaterra de Fórmula 1.)
Requisitaram-me imediatamente para ir para a "zona mista" do Estádio, onde os jornalistas esperavam ansiosamente a chegada dos atletas. A imprensa brasileira concentrava-se numa grande mancha de pessoas, interrogando-se sobre o sucedido... Juntei-me a eles, à espera da entrada triunfante!
Poucos minutos depois, surge o primeiro classificado: Stefano Baldini da Itália; em segundo lugar, Mebrahtom Keflezighi e, em terceiro lugar, Vanderlei de Lima fazendo o aviãozinho e com um sorriso de satisfação!! Vanderlei aproxima-se da Imprensa, onde eu o espero ansiosa por ouvir o que ele tem a dizer, e explica os momentos de exaltação da corrida: "Não esperava, não tive reação para me defender, porque estava concentrado na prova. Aquilo me atrapalhou bastante, porque eu parei e perdi o ritmo, o final seria diferente. Mas não sei se venceria."
Vanderlei não conquistou o ouro, mas estará presente nas memórias de todos nas próximas Maratonas; estas imagens ficarão marcadas para a eternidade como uma das mais impressionantes de todos os tempos. Ele será relembrado como um bravo maratonista, que perante dificuldades e barreiras disputou o seu lugar até ao fim...tal como Pheidippides o fez centenas de anos atrás.